domingo, 1 de junho de 2008

uma abóbada importante

para quem tinha enormes montanhas postas em movimento
e zelava os contrafortes do amor
é estranho que abrevie na boca a imensidão do tempo
esse tempo roxo sem tamanho algum

porque já habitam árvores de páginas muito incertas
nas difusas velocidades da dor
e é provável que vocês nunca mais façam os olhos
desses olhos queridos ao longo do céu

para quem tinha acabado de perceber o atrevimento da morte
hora de atrelar um carro ao boi

3 comentários:

j disse...

"para quem tinha acabado de perceber o atrevimento da morte
hora de atrelar um carro ao boi"

lindo demais. eu queria muito ter escrito isso. obrigada.

Sebastião Edson Macedo disse...

eu escrevi isso incrivelmente devagar, interrompidamente, durante todo o domingo. quando encontrei o título, entendi que eu estava pensando em mim, na vida que eu tenho para fazer alguma coisa com ela. e por isso, só por isso ter sido entendido, postei aqui. mas uma vez aqui, postado, parece que o poema adquire uma potência por fora de mim, que me assusta porque não pude controlar novos entendimentos que tive ao ler novamente, como coisa que não abrevia a boca vasta do mundo. e a vastidão nenhuma é essa inevitável ironia: a de ele me parecer incrivelmente pequeno. e aquilo que escrevemos é uma tocha que queima no mesmo sítio em que aceitamos esquecer nossos desejos, temos medo e nos calamos.

Anônimo disse...

seja muitíssimo bem vindo, sebastião.

agora sinto tudo muito deslumbrante.