poderia eu dez mil vezes criar-te Homem e tu seres de mim na propriedade de quem verdadeiramente ama. Pois amo Heládio na tua totalidade humana, amo o Homem de ti tão habitado por adolescências, amo teu gozo denso forte e musgurento, seria em ti projeto de alma-Amor e se crescesses em mim estarias aplaudido no orgulho fraterno de apaixonamento e ternura. Se observas a passagem do meu corpo e feito em prece afastas de mim ossos carne sangue, amoleço o peito em consolação à quentura de um passado tão breve quanto o teu desejo em mim revisitado pelas noites enquanto te ausentavas - e tudo era fácil, tudo em mim reluzia uma simplicidade selvagem.
Olhar a ti em matéria-ausência é o que esmurra todas as pérolas na nuca, Divino, escorridas no colo.
Seria a Divindade em mim criteriosa com a moral que tanto perece nessa mulher que sou, seria Deus este Homem em que te transformas, trazendo em mim o deslumbramento isento de erros e injustiças. Pois amo tanto este Homem que tomo como minhas as palavras proferidas e anoiteço escurecendo inteira na propriedade de quem somente engole, sem amar. Lamento tua morada, teus portões, lamento teu chão empretecido de tanto desprezo, pois à casa tornaria se pudesse eu estar em ti ainda que por soberba, transformaria o corpo de mim em brasa torrando de ti os membros, corroendo de ti a pele, sendo só isso o que me destes.
Vou morrer em mágoa corajosa, sabendo que fui bravia e cruel, desde menina, sabendo que sou feita de puro Amor e no de dentro cresço e embranqueço à medida que a vida cessa de escorrer e se tomado de mim fores, Altíssimo, urro aos cantos que não mereço e encolho tal qual bicho mole seco, cavo morada em terra morta de abismos.
6 comentários:
após o almoço farto
mesa cheia posta ao chão
tenho sido linear como nunca
e meu alimento
folhas vivas legumes pautas
pó-de-arroz rímel caneta
teclas furtos enter
pausa rima pobre
ai de mim desatino
estupidez enevoada
salada de terra preta húmus
pele nova esfoliada
(o coração por dentro esfacelado)
os cabelos termocontrolados
sobre um salto erguida
a página fotofóbica
de joelhos,
misericórdia.
nessa terra não há felicidade
Divino rosário contas
e gruta
sou inteira de gessos
e pedras polidas
não arranho
construo para
demolir
a força túrbida de arrancamentos e plantações desse texto (o que é isso, meu deus?) reponta um jacto de vida verdadeira e possivel dentro de mim.
ainda bem que esse texto é a prova da existência de uma pessoa que é tudo isso e ainda mais.
SINGRADURA
Mesmo que em mim cogitem frutas, somente em teu anzol tenho a verdadeira memória do aberto par púbere de asas afloradas. Por teu lençol desobedeço essa minha natureza de nortes que faz tombar os ditos mais fortes Homens. Deveras não-armipotentes. Homens que entregam o olhar ao poder das sortes. Não sou vil. Não sou de agora. Não sou de olho acéfalo. Nem de cílios chumbados de areia molhada. Não sou desses que tombam diante da própria origem, por um vôo derivado de qualquer corte no arco de olor posto em combate.
Somente tua flor tem meu molhado labial e guarda o gosto das minhas sementes frutígeras que esperam rechear tuas molduras. Somente em ti tenho olhos de ausência, voando pássaros em mim, e de mim, no giro de um sonho ou de um ato. Gosto mesmo é de mergulhar na tua pose, nesse teu ar bem temperado de pós-modernidade, de me estrepar em tuas pedras de Israel e me acabar nos teus tenteios.
Somente o teu corpo reconhece minha colcha. Somente o meu corpo reconhece tua concha.
E eu te coabito no tato como um cego adquirido. E tu me geras no fato como um conato renascido.
saravá !
eduardo, você é lindo.
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