domingo, 29 de junho de 2008

este me compreende somente em superfície
porque revolucionário somente até os vinte e cinco anos
e porque em celebração nos conjugamos
pois que celebremos nossos dias
até hoje e tantos muitos
amém e por todos os séculos
somos glória nossa e de nossos pais
por tabela
por opressão incógnita
por opressão e glória
de quem me clame
de quem me julgue meu e me.

sábado, 28 de junho de 2008

risco o fusco
lusco dos versos
amargo e triste por cousa
alguma e te encontro
ao menos encontro
qual ramos
amorfos ainda domingo
a parir esperança
alguma por entre as pernas
escorro líquida e absorventes
meus atos meus surtos
meus meus somente meus
e quando sigo ao alheio sou turva
e pouco me vale o que sou ao lírico
ainda que vivo soubesse a libido
ainda que fosse água límpida
e meu curso fosse de anil
e meu sábado de tequila
sal cerveja gelo limão
e me batesse o ponto das horas a fio
das noites em dia
todas em claro
em escala de trabalho
doze por trinta e seis
acordo às sete
visto-me às oito
salto do trem e fico
das dez às dezoito.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

enquanto juntava as mãos e 
centrava o espírito
elevando uma oração ouvi
uma voz parecia
que chamava alguém
(e eu juro que não senti desespero)
senti textura de penas plumas ossinhos finos
um cantado agudo pequeno

ouvi minha respiração
alento
erguer um pássaro lá pro alto

mais uma vez a voz chamava
(não pensei em ti)
não orei e centrei para ouvir

era eu mesma 
eu pequena sendo
a mim ainda menos 
na leveza observando
lá do alto a minha própria
vida.

e lá do alto
(já que nada mais tenho que tocar nesta vida)
senti um tropeço de tédio
mas prosseguia

terça-feira, 24 de junho de 2008

azulescência

recebi seus livros como socos
na boca do estômago estou lendo
e ajustando as cintas e pervertendo

você não perde por esperar eclodir
meu casulo

poder compactuar da sua morte do seu
sono da sua santidade
da minha fé tão estúpida

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Receita de mel

as abelhas bichos que voam e abano na cantina,
hexágonos conglomerados de néctar.
elas, como eu, rebolam pra lá
e pra cá, mas elas se acreditam
ouvem e reproduzem os sons das asas
das outras e encontram flor de laranjeira
(quando não entram no meu guaraná)
depois, das formas rígidas semelhantes
onde moram onde cantam onde
namoricam
pinga mel

terça-feira, 17 de junho de 2008

sê-lo Divindade

Enquanto meu corpo passa pelas avenidas que esperas o mundo e vês esse meu passear, imaginas este corpo de mim em forma e toque da maneira de outrora, fervente e rubro, tensionado e pagão ? Pois se Magna agora prevê Heládio-Altíssimo em agonia, o corpo-Heládio permanece em estado de inverno, a frieza é o que há de mais rançoso em todo encontro de espírito forma tejo. Se de plumas te cobres enquanto pairas por todo trajeto de terra seca, por quê já não flutuas ciente na liberdade de sê-lo leve, terno. A tensão produto humano do abandono e desassossego fez de nós miúdos, tamanha pequenez que interrompe no tempo os gestos que poderiam ser tantos e tão bons e lídimos, por quê de eu-Magna só esperas destruições e caos ? Poderia ser irmã de ti se dessa forma quisesses de mim, poderia ser maternal e aquecer o que é teu no ventre seco por tantos amores brilhantes
poderia eu dez mil vezes criar-te Homem e tu seres de mim na propriedade de quem verdadeiramente ama. Pois amo Heládio na tua totalidade humana, amo o Homem de ti tão habitado por adolescências, amo teu gozo denso forte e musgurento, seria em ti projeto de alma-Amor e se crescesses em mim estarias aplaudido no orgulho fraterno de apaixonamento e ternura. Se observas a passagem do meu corpo e feito em prece afastas de mim ossos carne sangue, amoleço o peito em consolação à quentura de um passado tão breve quanto o teu desejo em mim revisitado pelas noites enquanto te ausentavas - e tudo era fácil, tudo em mim reluzia uma simplicidade selvagem.
Olhar a ti em matéria-ausência é o que esmurra todas as pérolas na nuca, Divino, escorridas no colo. 
Seria a Divindade em mim criteriosa com a moral que tanto perece nessa mulher que sou, seria Deus este Homem em que te transformas, trazendo em mim o deslumbramento isento  de erros e injustiças. Pois amo tanto este Homem que tomo como minhas as palavras proferidas e anoiteço escurecendo inteira na propriedade de quem somente engole, sem amar. Lamento tua morada, teus portões, lamento teu chão empretecido de tanto desprezo, pois à casa tornaria se pudesse eu estar em ti ainda que por soberba, transformaria o corpo de mim em brasa torrando de ti os membros, corroendo de ti a pele, sendo só isso o que me destes.
Vou morrer em mágoa corajosa, sabendo que fui bravia e cruel, desde menina, sabendo que sou feita de puro Amor e no de dentro cresço e embranqueço à medida que a vida cessa de escorrer e se tomado de mim fores, Altíssimo, urro aos cantos que não mereço e encolho tal qual bicho mole seco, cavo morada em terra morta de abismos.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

poído

sem que se abram os remendos que já existem
procuro a linha e as agulhas
elas devem estar aqui em algum lugar
se bem me lembro
meu pai me orientou que as pusesse por aqui
ele sabia que eu ia precisar
e eu dizia "não, pai, eu confio nessa máquina"
mas ele estava certo
"sim, você confia, mas deixe por aqui
como as velas e os fósforos em dia de falta de luz,
porque você também confia nas lâmpadas mais que nas velas"

pensando bem,
guardarei meus poemas a punho.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

brilhando brilhando brilhando

misturado com deus
eu tinha uma bala caída no chão da área
eu tinha um serviço de santo na minha testa
no meu colchão os cabelos de palha
o betume do parto o calçamento

misturado com o poste
sabes que há sangue no urinol
sabes que é uma resignação mofada de medo
no teu pedaço de abrigo a meia boca
o assunto todo esburacado pela parede

misturado na gente
são cadelas roçando as revistas capitais
são as pernas imbecis pelo chão
em nossos dentes oxidados a chave enfiam
uma notícia pelo bagaço da latrina

quinta-feira, 12 de junho de 2008

poema que ouvi na janela

.......................alô, morro do borel

é preciso cuidar da cabeça
porque o piolho é um bichinho que,
se deixar,
come o seu cérebro
então,
os meninos e as mamães,
vamos cuidar da cabeça.

escritor depois da quinta

................................para sebastião edson macedo

pedirei ao analista que tome nota:
- são quinze anos de cintura mais alta,
pernas finas,
atenção difusa,
muitos livros.
quinze anos que meus hábitos me distanciam
desde em casa,
desde a casa em mim,
tome nota.
vinte e seis anos que não caibo em coisa alguma
nem nenhuma em mim
nem que a faça.

terça-feira, 10 de junho de 2008

do resto

a estúpida simplicidade das roupas de cama depois

do sol sobre o cesto
do alpendre prazer em viver a casa
boquiaberta para a dissipação
do resto
do mundo sustentado à beira de cada longe e ruído

a rua que aqui vai dar numa folhinha amarela lábios

hão de plantar um sono
hão de guardar os batentes do amor
justo sob a firme luminosidade
das ilhas
que desaparecem em algum lugar nos pensamentos

segunda-feira, 9 de junho de 2008

antes do almoço

eu canto dentro da flor ela abre
nácar que insiste em ser toda a minha salva
um coração preciso

fosse deitar na minha boca extrema
vulcã a baba um dia doce e hialina ela abre

xícaras de quanto é bordado o rosto fogo
num bicho que eu canto cheiro
a mato alto e limpo

eu invado com o sangue essa flor
buril de fome exata e feitura inteira afeto

ela encosta abre seu nome em mim
redondo com uma saúde rufa lava
o meu apetite

domingo, 8 de junho de 2008

Como fruta madura que cai do pé

(e ainda muito antes de apodrecer) trato de lançar fora logo as sementes todas. Portanto, prefiro cair de muito alto, me espatifando ao menor tamanho possível e ao maior número de fatiazinhas. Já que tenho mesmo que servir de adubo, seja ao menos com cheiro de vivo, com cheiro de flor ainda, feito jambo rosado, feito o floco de nuvem de dentro - melhor quando cai do pé, melhor quando não tem o que escalar - se oferece a carne aos beiços, se oferece o talho ao olfato, se chupa a semente toda e se impede, assim, à vida.

sábado, 7 de junho de 2008

Feita da matéria de pétala
ergo prece aos zumbidos
ratifico quimeras 
quadris querenças
sou inteira finura
abalos e princípios
e estou cavando ossos
no precipício do
Teu rosário.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

miguel considera margarete

repara
é para a perda que tudo flui
é na ausência que tudo floresce

claro claro
o coração dele se enche de alívio
No vão do vento vai o véu da vulva.
E vem. E volta. Violando num vôo
Veloz, vilão. Vendaval navegável
À vela. Vale vê-la, a vil: a vulva.

Felina válvula. Volúvel flama.
A flor violenta, violina, violácea.
Vago vermelho no vale da fêmea:
O véu da vulva vem num vôo e volta.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Se me tocas, de repente morro um pouco. Em todo percurso percebo pontos luminosos de todas as cores e se pudesse, Altíssimo, eu nesse meu desengonço explicaria a origem de tanto mofim nas coisas de mim, mas não posso e sequer compreendo, já que sinto as lanças todas as pontas e não sangro, devo mesmo estar deleitoso de Teu toque.
se chamam a Ti até de Pai percebo o quão longe chegaste e ensoberbeço o espírito em um êxtase que inspira parceria, sinto-me um dos Teus e contemplo meu corpo como Santo. Mas ainda restam em mim tantos vestígios de carne sangue ossos, ainda sou tão pedra, Altíssimo, ainda perdura por mim o pânico dos dias, tantos nós na alma, meu dedos tremem como se houvesse entre eles algo cuja força para segurar fosse o fracasso, o entorpecimento do que sou sinto faço tenho, solicito flores. Vejo em meus aposentos mais de quinhentos livros folha por folha tragados concisamente por essa fome de Cão-vermelhento. Coloco fogo em velas de todos os tamanhos, toras imensas estreitos filetes de cera, coloco em fogo todas as coisas das quais não tenho domínio, Senhor. Quanta vergonha por meus filhos. No fim das contas, acendo a mim, agente de Vida-amor, acendo e Ilumino pois sei que sonharam a mim toda a pele, ressurgindo em mim tudo o que não é lástima. Sou incêndio enquanto gente, é como se estivesse por dento de Ti aguardando explosão, arrebatamento do Teu crescer em mim: reviveria todas as minúcias para que o Amor-vida jamais morresse.

Deus me disse
que nascer é uma dor
que eventualmente
é esquecida
Morrer é uma dor
sentida pelo
esquecimento ?

segunda-feira, 2 de junho de 2008

a parteira

eu fiz três parto no chão de terra. as mãe rezava as ave-maria delas e eu me apegava co'santo. cada criança que eu desembuchei de minha foi tamém no chão. sentia que nem pinicando as costa, as parteira num sabia onde punha o lençol, os homem viero tudo cá pra dentro panhar o neném que eu nem tinha posto os olhos. os três uma saúde de ferro, graças a Deus. eu dei um pra dona Júlia, da fazenda no seu Antônio, as menina eu dei pra madrinha Zica, que ela cuida que nem cuidou de nós. os menino sabe que eu é que sou mãe deles tudo, mas num vem me procurar. eu tamém num vou. aqui na chácara é tudo muito longe, sabe? tem que subir de cavalo até lá em riba da cidade, depois descer nos caminhão da fazenda inda dar a sorte de achar os cavalo na volta. eles tem tudo carro hoje, tão bem de vida, o mais velho é doutor. sei de que não senhora, mas doutor deve ser aquelas coisa importante de lá da cidade grande. de primeiro nós beliscava as bochecha pra ficar rosada que nem que fosse o sol, mas lá pra cima as moça acha de passar umas tinta que colore feito boneca de louça é rosada de boca rubra que só. parece aquelas moça da zona, só que é mais bonita, as roupa chique, não tem esses decote das capivara, tem uns estampado que misericórdia. e os sapato, e os chapéu? cada coisa, menina. agora as moça vai tudo pra cidade parir co's médico. diz que num dói mais, que ela cheira um negócio e dorme, quando vê já ganhou o neném. demora uma semana pra ficar de pé, porque o médico rasga ela de fora a fora quando o neném tá virado, ela não consegue levantar. deus me livre.nossa senhora do bom parto que protege elas tudo, e os médico. antigamente a gente sabia fazer as coisa, homem não podia ver. agora elas se abre tuda pros médico, cruz credo. deus que perdoa elas.

inveja e querença

faço um esboço do dia em que estrelas minhas todas. ainda valho menos. ainda menos no dia em que esboço... essa música... esse caderno ainda virgem. tenho escrito pouco e pouco a pouco menos. um pouco mais de ânimo, um pouco mais de vida, um pouco mais de luz. faço um esboço do dia. estrelas todas, todas elas minhas. os livros que meus amigos escreverão, após e muito melhores que o meu. todos muito melhores. e eu, tão pura, tão crente, antes de tudo pública, antes mesmo da minha estréia. meu palco ainda frio aguarda. esse não me tomam, esse há de ser meu palco. não sei bem por que inicio, nem qual seria minha finalidade. me faltam desde o verbo à mais sintética das anomalias, a folha branca. me falta o fundo e o texto.

estrelas minhas conceber-me teu técnico, por ti (e somente um tu) estar a transformar alquimista pacotes em alimentos. quando se dobra em mim a pessoa segunda (e tem sido segunda e dupla em mim também a primeira) a dos versos de sempre e a que em prosa se persona. furto-me o acreditar das coisas tão somente por não-inocência. quem me dera haver um relógio de ponto a soar minha hora de retorno. estaria acordada por instantes - instantes esses como o sono profundo de que sonhos não me lembro. pena de mim se buscasse auto-compreensão: tenho entranhas despejadas por uma ponta de esferográfica, escorrida pelos bueiros à beira da calçada.

acordar com chuva

acordar com chuva
não hoje nos dias que rumorejam
minhas amarras meus dedos
emporcalhados de uma triste esperança acordar
com chuva quando há sol no vão dos prédios
e a semana não desabou
sobre a inclinação das pendências

sobrecarregado estava o céu veemente
e enquanto dormias distraído da conspiração
de tuas águas mais escuras arrebentou-se
o silêncio fosco dos passeios privados
de tudo e deveras públicos
encharcando o ouvido do mais espesso
passado acordar com

chuva em pleno sol acordar seco
sólido acordar a manhã
limpa o coração tão estrondo

domingo, 1 de junho de 2008

uma abóbada importante

para quem tinha enormes montanhas postas em movimento
e zelava os contrafortes do amor
é estranho que abrevie na boca a imensidão do tempo
esse tempo roxo sem tamanho algum

porque já habitam árvores de páginas muito incertas
nas difusas velocidades da dor
e é provável que vocês nunca mais façam os olhos
desses olhos queridos ao longo do céu

para quem tinha acabado de perceber o atrevimento da morte
hora de atrelar um carro ao boi

chá das três (às três)

as janelas maiores que a casa
apanham
a folha molhada do chão

mastigo hortelã do teu vasinho
infusão
tua penumbra me é luz intensa

saio de mim
passageiro do banco de trás
modifico da crista à casta
por influência