sábado, 24 de maio de 2008

sobre todas as coisas

se quiserem posso muito bem falar sobre flores, ninhos, animais. se quiserem eu posso o que EU bem quiser. posso brincar de ser teto, de ser folha, de estar certa. se assim bem quiserem, posso inventar que dá certo ser poeta, que é divina a tempestade de existir sendo como se é. posso pontuar o tempo todo, posso parar meu próprio tempo, posso buscar e transformar dor em sossego, eu posso estar em qualquer lugar que seja e ainda brincar de estar aí: olhe para baixo, os dois olhos são meus. eu posso encontrar descanso nessa noite tão bonita e adotar um desses cachorrinhos com olhos tristes redondos de bicho, eu posso ser em mim esses olhos e ninguém nunca vai perceber, nunca. eu posso nunca mais escrever a palavra paixão em nada que seja de mim e ainda assim virar infortúnio, ninguém sabe. vamos fingir todos que há alicerce na saudade e que é de clareza que a vida vive. faz de conta que eu nunca disse que nessa vida me faltava morrer um pouco porque ando sentindo falta até de adoecer. e se eu contar agora que falo igual nordestino e que finalmente psicografei Deus falando de solidão ? não digam por aí que eu fiquei biruta, nem digam que eu não encaixo porque não escrevo poesia, não faço verso, não faço mercê a mares azulentos e molhados. vamos todos brincar de porcelana e raxar um pouquinho, deixar escorrer, ganhar carinho ? vamos todos entender que ser homem não é sopa e que seria necessária a décima parte de muros abaixo para que houvesse, aqui em mim, um caminho

até aí

meu passo sendo leve:

fiz poema até sobre o chão que pisei - todos pisaram.

e ninguém sabe. 

2 comentários:

Unknown disse...

Ain, meus deuses! Q lindo, q orgulho! =~~
Q bom q vc voltou a escrever, amor! Vc precisa usar e abusar desse seu dom.
Parabéns para as duas!^^

;****

j disse...

e ai a gente fica boiando nessas palavras amargas e imaginando onde estaria o doce da mel. esperando um desfecho bonitinho ou corderosa. mas porra nenhuma, é de um estampido seco, ensurdecedor.