segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

autobiografia

todos os amigos se importam
e têm algo a dizer
mesmo que não falem nada
as coisas da minha vida
somadas às coisas da sua vida
mais a vida dos outros
é base de muita conversa
papo-furado de botequim
roteiro de filme
mesmo os nomes, usamos
sem pedir licença
tá tudo em família
(por sorte, ninguém aqui me quer mal)
e o dito hoje
passados os anos
que efeito?
eu, que em botequins fui ingrata
fui meretriz, fui fraude, fui ladra
estou hoje sendo lida com gosto pelos bebuns
estou hoje bebendo com gosto sua posição
é a vida
uns vêm, outros vãos
eu, que sempre estive cabisbaixa, enxovalhada
escrevendo minha impotência ante a hipocrisia
escárnio sem pretensão
me dando ao luxo de sorrir
nesse mundo de filha da puta
mas todos, amigos,
sabemos que tem coisa que se fala sem pensar.
sabemos da grande mãe relatividade,
que olha por nós agora e na hora de nossa morte
que olha por nós quando pecamos
quando maldizemos
quando praguejamos
e mentimos
porque todos mentimos
com esse nosso riso sentido e maquiado
porque todos não entendemos o porque
mas nos viramos uns contra os outros
e nos pusemos outros contra os outros
e com isso aprendemos como se dirige o mundo.

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